ELEMENTO GEOMÉTRICO
          
        
          "Pitágoras
          havia provado que o mundo dos sons é governado por números
          exatos. Assim, dirigiu sua pesquisa no sentido de verificar se o mesmo
          ocorria no mundo das imagens visuais. E nisso há um feito extraordinário.
          Olho ao meu redor: aqui estou nesta paisagem grega, colorida e maravilhosa,
          entre formas rústicas naturais e grotões órficos
          e o mar. Onde, sob este lindo caos, poderia ser encontrada uma estrutura
          simples, numérica?  
        A questão
          nos reporta às mais primitivas constantes de nossa percepção
          das leis naturais. Para encontrar a resposta é claro que devemos
          partir de dados universais da experiência. Há duas experiências
          nas quais nosso mundo visual se baseia: a gravidade é vertical
          e o horizonte é ortogonal à primeira. Essa conjunção,
          esse cruzamento de linhas no campo visual, fixa a natureza do ângulo
          reto; assim, se eu girasse esse ângulo reto sensorial (o sentido
          de 'para baixo' e o sentido de 'para os lados' ) quatro vezes, voltaria
          ao cruzamento da gravidade com o horizonte. O ângulo reto é
          definido por essa operação em quatro estágios,
          e, através dela, diferenciado de qualquer outro ângulo
          arbitrário”. pág. 157  
        “Então,
          no mundo visual, na imagem do plano vertical que nos é apresentada
          pelos nossos olhos, um ângulo reto é definido por sua rotação
          em quatro estágios sobre si mesmo. A mesma definição
          é válida para o plano horizontal percebido, no qual, na
          realidade, nos movemos. Considerem esse mundo, o mundo da Terra plana
          dos mapas e dos pontos cardeais. Nele me encontro olhando através
          dos estreitos, de Samos para a Ásia Menor, na direção
          Sul. Tomo um sarrafo triangular e aponto-o naquela direção:
          sul (com o sarrafo triangular pretendo ilustrar as quatro rotações
          sucessivas do ângulo reto). Girando o sarrafo, de um ângulo
          reto, ele irá apontar para o oeste; mais uma rotação
          de um ângulo reto e estará apontando para o norte; numa
          terceira, o ponto apontado será leste; e, na quarta, e última
          volta, a apontar para o sul, para a Ásia Menor, nosso ponto de
          partida.  
        Não
          somente o mundo natural de nossa percepção, mas também
          o mundo por nós construído, obedece a essas relações.
          Tem sido assim desde os tempos em que os babilônios construíram
          os Jardins Suspensos, e mesmo antes, no tempo da construção
          das pirâmides pelos egípcios. Em um sentido prático,
          essas culturas já tinham conhecimento de um arranjo quadrado
          de construção, no qual as relações
          numéricas revelavam e formavam ângulos retos. Os babilônios
          conheciam muitas delas, talvez centenas dessas fórmulas, por
          volta de 2000 a.C. Os indianos e os egípcios conheciam algumas.
          Parece que estes últimos quase sempre usavam o arranjo quadrado,
          como os lados do triângulo constituídos de três,
          quatro ou cinco unidades. Não foi se não por volta de
          550 a.C., que Pitágoras recuperou esse conhecimento
          do mundo dos fatos empíricos para o universo daquilo que hoje
          chamaríamos, da prova”. pág 158  
        “O
          ângulo reto é o elemento da simetria que divide o plano
          quatro vezes. Se o espaço plano apresentasse outro tipo
          de simetria, o teorema não seria verdadeiro; a verdade estaria
          em alguma outra relação entre os lados de outros triângulos
          particulares. E, note-se, o espaço é parte fundamental
          da natureza, tanto quanto o é a matéria, mesmo sendo (como
          o ar) invisível; nessa dimensão está a essência
          da geometria. A simetria não representa apenas uma sofisticação
          descritiva; à semelhança de outros pensamentos pitagóricos,
          ela busca a harmonia da natureza ”. pág 161  
Do livro "A Escalada do Homem" de J.Bronowski 
Livraria
Martins Fontes Ltda. e Editora Universidade de Brasília 
1ª edição brasileira 1979  
O
sublinhado do texto foi feito pela autora deste livro 
        
     |